WeChat

Como o WeChat conquistou o público chinês

A jornada começou em 2010, quando a Tencent, gigante da tecnologia chinesa, decidiu aproveitar o crescimento dos smartphones e desenvolver um novo aplicativo de mensagens. Para isso, um pequeno grupo da equipe responsável pelo QQ Mail, então principal produto da empresa, foi convocado com o objetivo de criar algo competitivo em relação a outras divisões da Tencent.

Esse time, composto por apenas 7 engenheiros, desenvolveu a primeira versão do app em apenas três meses. Em janeiro de 2011, o Weixin foi lançado, oferecendo uma plataforma simples de troca de mensagens e compartilhamento de fotos. Porém, o sucesso não veio de imediato.

Ao analisar a concorrência, ficou claro que precisavam de um diferencial. Quatro meses após o lançamento, o Weixin introduziu a funcionalidade de mensagens de voz, permitindo que os usuários enviassem pequenos áudios. Na época, digitar caracteres chineses em teclados de smartphones era complicado, tornando as notas de voz uma alternativa mais intuitiva e conveniente.

O resultado foi impressionante: o app alcançou 100 milhões de usuários no primeiro ano. Com esse marco, a Tencent decidiu expandir o aplicativo internacionalmente, renomeando-o para WeChat em 2012. Em 2013, a empresa contratou Lionel Messi como embaixador da marca, estrelando campanhas publicitárias em TV e outdoors.

**A importância de resolver desafios internos**

Ainda em 2013, foi lançado o WeChat Pay, uma carteira digital integrada ao aplicativo, que permitia pagamentos móveis e transferências entre contatos. Inicialmente, a novidade não atingiu o sucesso esperado. Para impulsionar seu uso, a Tencent decidiu resolver um problema interno.

Seguindo uma tradição chinesa, os gerentes da empresa presenteavam os funcionários com envelopes vermelhos contendo dinheiro no primeiro dia útil após o Ano Novo Chinês. À medida que a Tencent crescia, essa prática se tornava logisticamente inviável. Em resposta, foi solicitada uma solução técnica antes da celebração de 2014.

Em apenas três semanas, a primeira versão dos WeChat Red Packets foi desenvolvida e testada internamente. A equipe observou como amigos e familiares utilizavam a função, e o recurso foi oficialmente lançado em 30 de janeiro, pouco antes do Ano Novo Chinês. Com ele, os usuários podiam enviar dinheiro diretamente ou distribuir quantias aleatórias entre um grupo de amigos. Esses valores eram depositados na conta WeChat Pay, podendo ser usados em compras.

O sucesso foi imediato: 40 milhões de envelopes virtuais foram enviados, totalizando 400 milhões de yuans (cerca de US$ 64 milhões na época). No ano seguinte, esse número saltou para 1 bilhão.

Esse êxito impulsionou significativamente o uso do WeChat Pay, cujo número de usuários subiu de 30 milhões para 100 milhões um mês após o lançamento dos Red Packets em 2014. A iniciativa também foi fundamental para fortalecer a confiança dos usuários, preparando o terreno para ampliar o uso do recurso em outros tipos de pagamento, tanto online quanto offline.

**Crescimento contínuo e parcerias estratégicas**

Em 2014, a Tencent firmou uma parceria com a DiDi, plataforma de transporte semelhante à Uber, para integrar o pagamento das corridas ao WeChat Pay. No entanto, em 2021, após uma decisão dos reguladores chineses, a DiDi foi retirada do WeChat.

Avançando para 2016, o WeChat Pay tornou-se o segundo maior player no mercado de pagamentos da China, ficando atrás apenas do AliPay, da Alibaba. Em dezembro daquele ano, o app alcançou uma média diária de mais de 600 milhões de transações, quase o dobro em relação ao ano anterior.

Hoje, o WeChat é indispensável na vida dos chineses, sendo um verdadeiro ecossistema que abrange desde pagamento de contas e delivery até jogos online e serviços como pedidos de divórcio. Os números refletem esse sucesso: em 2023, o WeChat Pay contava com 935 milhões de usuários ativos na China. Dos 1,37 bilhão de usuários globais, cerca de 1 bilhão estão no país.

Em 2024, o valor de marca do WeChat é estimado em US$ 42 bilhões, embora tenha sofrido uma queda de 16% em comparação ao ano anterior. Mesmo assim, o super app continua a ser uma das marcas de mídia mais valiosas do mundo.